Nova vacina será mais barata e completa do que as disponíveis hoje e estudo será feito em parceria com ingleses
Pesquisadores do Instituto Butantan, um dos maiores centros de pesquisa do mundo e que é vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, iniciam em 2018 um projeto que visa desenvolver uma vacina inédita contra a pneumonia, que será de uso inalatório, dispensando, portanto, a utilização de agulhas. Para os cientistas, a nova vacina também deverá ser mais barata, eficiente e prática do que as que estão disponíveis hoje no Brasil e no mundo.
A pneumonia atinge, em média, 450 milhões de pessoas por ano e é registrada em todos os países do mundo. A pesquisa tem três anos para ser concluída e somente depois disso poderá ser testada em humanos. O projeto faz parte de um acordo bilateral entre Brasil e Grã-Bretanha, com o apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do Medical Research Council. Além do Butantan, estão envolvidos nas pesquisas a Universidade John Moores de Liverpool, a Escola de Medicina Tropical de Liverpool e a empresa irlandesa Aerogen, que é especializada em aerorois.
Para produzir a vacina, os pesquisadores terão que escolher uma das proteínas que fazem parte da bactéria Streptococcus pneumoniae, principal causadora de pneumonia no mundo e também conhecida como pneumococo. A proteína, que é apenas um “pedaço” da bactéria, passará por um processo de isolamento e purificação. Depois ela será combinada com nanopartículas (partículas ultrafinas) que funcionarão como “pacotes” para transportá-la e introduzi-la no organismo dos seres humanos por meio de inalação, chegando até os pulmões de forma precisa e estimulando a produção de anticorpos contra a bactéria no organismo das pessoas.
Um dos desafios do projeto é analisar qual a proteína mais adequada para a vacina. Os pesquisadores têm trabalhado com a PspA (Pneumococcal Surface Protein A) que tem ótima resposta imune, mas que possui famílias diferentes e exigiria a combinação de duas proteínas diferentes e uma análise sobre as possíveis reações cruzadas para verificar, por exemplo, se uma proteína de uma família não neutralizaria ou distorceria as propriedades da outra.
Uma outra proteína, porém, também está no alvo da pesquisa e acaba de ser introduzida aos estudos: a Pneumolisina. A vantagem é que esta proteína não tem variações de famílias e é mais simples, portanto. A desvantagem é que na literatura, existem relatos contraditórios sobre se ela seria ou não eficiente para uma imunização. Os pesquisadores também não descartam uma terceira hipótese que seria promover uma fusão entre a PspA e a Pneumolisina.
Dois laboratórios do Butantan estão envolvidos no projeto. O Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas é o responsável pelos estudos relacionados à proteína, que é produzida em grandes quantidades. A pesquisadora Viviane Maimoni Gonçalves explica que como a própria Streptococcus pneumoniae é difícil de ser cultivada em laboratório, o gene que codifica a proteína é introduzido em uma outra bactéria, a Escherichia coli, para que a produção possa ser realizada. Já o Laboratório de Bacteriologia é responsável por realizar ensaios com camundongos nesta fase da pesquisa.
“A nova vacina deverá ser mais eficiente do que as disponíveis hoje porque poderá proporcionar uma imunização mais ampla. Hoje todas as vacinas contra o pneumococo disponíveis no mundo são compostas de polissacarídeos (que ficam na superfície das bactérias). O problema é que a bactéria Streptococcus pneumoniae tem uma variação enorme que as vacinas atuais não conseguem abranger”, explica a pesquisadora Eliane Namie Miyaji.
A bactéria Streptococcus pneumoniae tem 97 sorotipos diferentes, e as vacinas existentes protegem contra no máximo 13 sorotipos. Outro problema é que a produção das vacinas existentes hoje envolve conjugar quimicamente a proteína aos diferentes polissacarídeos, um processo complexo e bastante caro.
A nova vacina poderá ser utilizada em forma de pó, o que facilita a logística para as campanhas de vacinação em massa, dispensando, por exemplo, os sistemas de refrigeração. Por fim, para os pesquisadores, o fato de não utilizar agulhas poderá ampliar a população interessada em se imunizar.